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Olhares

Poemas

Francisco

Os olhos crescem
verticais
como se em lugar nenhum
sopesassem
a voragem
da luz,
o silêncio.

Esconde-te.
Há quanto tempo não desperdiças
a paisagem, pergunto.
Há quanto tempo
não olhas
para trás.

No declive da tua sombra
os olhos crescem.
Pelo inverno em pousio
o rebanho acautela o silêncio
sob as trajetórias
côncavas
dos pássaros.

E tu não ouves.

Há quanto tempo te escondes, pergunto.
Há quanto tempo te escondes
onde os olhos crescem.

José Rui Teixeira

Jacinta

Fecha os olhos.
Eu conto-te como foi:
há muita morte num amor assim.

A tua infância segreda
o que me resta.
Direi as mãos do anjo,
o pó que se levanta
do incêndio dos teus passos,
o halo azul
sobre os teus olhos fechados.
Não te deixarei cair.

Eu conto-te como foi:
há muito amor numa morte assim.
Guardarei a tua infância.
Do teu coração direi
que é sarça ardente.

 

José Rui Teixeira